quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Tempo

Era a primeira vez em anos que se viam…O tempo, como qualquer outro curso de água, deixa as suas marcas de uma forma tão lenta que se torna quase imperceptível.
- Estás mais gordo. – Disse Eva com um sorriso malicioso.
- E tu continuas bonita, como sempre… - Disse o Paulo, com uma incapacidade de fixar o olhar e uma estranha entoação na voz. As palavras não eram falsas, mas demonstravam uma estranha falta de convicção, como se os sentimentos não acompanhassem as memórias e os processos cognitivos. Era tão estranho ter a consciência que os dois já tinham partilhado o tempo e o espaço e que agora ela era pouco mais que uma estranha, que lhe causava incómodo por estar tão próxima.

Originalmente publicada em penasuave

1 comentário:

éme. disse...

Engraçado... também acho que os sentimentos não acompanham as memórias (quase sempre).
Depois da partilha dessas entidades incontornáveis (tempo e espaço), a distância, se acontece, ganha expressão em todas as dimensões e abafa-nos até as lembranças do que podia ter sido........

A estranheza sentida por alguém que antes era como prolongamento de mim... oh... sim, causa incómodo. Pelo menos, incómodo!