segunda-feira, 10 de março de 2008

Primeiro Final

Foi numa tarde de Julho que ela concretizou os meus piores receios…
O Verão submetia-nos à sua real dimensão. Estávamos os dois sentados no sofá de minha casa tentando espantar o calor que insistia em dar uma consistência gelatinosa aos nossos corpos.
Ela trazia no rosto a marca de cemitérios e de funerais, aniquilando desta forma toda a esperança (que agora só a mim fazia sentido) num futuro. Como ela não conseguia falar foi necessário que a pressionasse até que ela disse:
-Eu adoro-te, mas já não sei se te amo. As palavras tinham ainda o sabor do mel, mas eram frias, distantes e afiadas como uma navalha de capar grilos ou porcos.
- Não quero que me adores, disse eu. Não me adores. Prefiro ter o teu amor ou o teu ódio, porque ser adorado implica distância e eu quero-te sempre perto de mim.
-Lamento muito, mas não posso. Nos olhos dela nasciam lágrimas azuis e transparentes. Não sabes como eu lamento, mas não consigo viver com uma pessoa que não tem objectivos nem sabe lutar.
Cheguei a pensar rebater as conclusões dela e dizer-lhe que apesar de não lutar, nunca deixei de ter objectivos, nunca deixei de sonhar, mas achei que não valia a pena, que ela tinha tomado a decisão que achava mais correcta e que não voltaria a trás.

Nessa Noite sonhei com Sereias e Barcos naufragados mostrando sinais de rombos de esperança no Casco.

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