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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Cartas

Porque assim lhe pedi, ela escrevia-me cartas e não as remetia; esperava pelo fim-de-semana para as entregar pessoalmente. Estas cartas que ainda guardo, procuravam partilhar solidão e saudade com um destinatário, que se tudo corresse bem, voltaria daí a uns dias.
Desta forma, o fim-de-semana era o reencontro com o amor, mas era também o reencontro com passado, com uma semana que nos passou ao lado…

sábado, 30 de agosto de 2008

O sol

O sol
Timidamente penetrando
Pela janela
Enchendo o ar que nos rodeia
O gosto amargo do café
O travo seco do cigarro
E ela à minha frente

O sol
Acaricia o seu rosto
E ilumina o seu olhar

domingo, 20 de julho de 2008

O Amor de uma vida

Ana queria mudar de roupa, por isso fomos a sua casa.
A casa era uma vivenda recentemente construída, de uma arquitectura linear, que demonstrava a capacidade económica dos seus pais.
Entramos. O silêncio sepulcral daquelas paredes, parecia abraçar-nos de uma forma persistente e isso de alguma forma surpreendeu-me.
Entramos no seu quarto. Na parede estava uma pintura minha que fiz para uma festa no Bar “A noite tem mil olhos”. Uma figura estilizada de um homem a tocar um instrumento de sopro, pintada a preto e dourado.
“Queres que saia”, perguntei eu de uma forma que acentuava um pudor que não era habitual em mim.
“Não é preciso. É como se estivéssemos na praia…”
Eu fingi estar distraído com os livros que ocupavam a estante, mas não consegui deixar de reparar na forma como estava magra e na roupa interior que tinha. Não tinha perdido o bom gosto e até era capaz de afirmar que o tinha refinado.
Por norma, sobretudo naqueles dias, a vaidade era uma das características que mais me incomodava nas mulheres. Mas nela a vaidade encaixava tão perfeitamente como a água se molda a qualquer objecto que a contenha.
“Sabes, o grande amor da minha vida é um homem casado…” Disse ela como se esperasse qualquer tipo de comentário. Mas eu nada disse limitei-me a olhá-la. Na altura assumi saber quem era esse amor, mas hoje, de alguma forma lamento nunca ter perguntado quem era.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Boleia

“I'm driving
Your girlfriend home
And she's saying
How she never chose you”
Morrissey

Parei o carro em frente à casa dela. Era uma estranha noite de Primavera, que já cheirava a Verão. Ana tentava não chorar enquanto ia falando. “Ele é um cobarde. Um dia, quando estiver sozinho, porque isso vai acontecer, todos vão ver o que ele realmente é: um cobarde, que não merece aquilo que lhe dei. Mesmo o sexo era uma merda. A maioria das vezes, o melhor que ele conseguia era adormecer em cima de mim”
“Isso é agora, que a vossa relação está numa fase decadente. De certeza que no início as coisas correram bem.” Disse eu, tentando minimizar a situação.
“Não é verdade. Desde o início que sempre assim foi.”
Aquilo que eu sentia naquele momento era um misto de contentamento e de vergonha...

terça-feira, 8 de abril de 2008

Ana S.

Por mais que eu tenha uma vida e tu outra, não é de qualquer forma necessário votar-mes a tamanha indiferença. Falaste-me há dias em tentarmos estar mais próximos. Eu expliquei-te que me sentia repudiada por ti. E sinto-o cada vez mais. Sempre que tento dar um passo, estendes a perna e estatelo-me no chão. Caio, caio, caio, sempre. É sempre assim , não é? E não digas que não tiveste intenção. Não me menosprezes dessa forma. Eu não sou parva. As coisas não me passam assim tanto ao lado. Mas pronto. Coisas que acontencem. E de qualquer forma não interessa. É sempre assim não é."
Ana S. 11 de novembro

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Carolina

O sol
Timidamente penetrando
A janela
Enchendo o ar que nos rodeia.
O gosto amargo
Do café,
O travo seco
Do cigarro
E ela à minha frente...

O sol no seu rosto,
Iluminando o seu olhar.
Sinto que devia estar grato,
Mesmo feliz.
Mas não consigo abstrair-me desta dor
Deste vazio...

Ela sorri...
Sinto o travo seco do cigarro
E esboço um sorriso...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Carolina

2
Há no vento frio que corre
A esperança de dar descanso
Ao corpo e à alma
Não sei precisar qual deles
(corpo ou alma)
Apodrece mais rápido
Sei no entanto reconhecer os sinais de abandono
Que tomaram conta de ti
Vejo sempre a tua imagem
Embora esqueça por vezes
De ver o teu corpo

terça-feira, 1 de abril de 2008

Carolina

1
É profunda e longa
A madrugada
Ressurgida sobre o vazio
E sobre a ausência
Ambos sabemos que a amargura
Da distância
É feita sobre ténues lençóis
Rasgados pelo peso de odores
Quentes e fétidos
Embora tenham sido um dia fluidos
De paixão

sexta-feira, 21 de março de 2008

Escadas

Certo dia estava eu, como quase sempre, sentado com a Eva nas escadas de entrada do seu prédio. A dada altura passou por nós uma rapariga de chapeu preto...
- Olha, é a irmã do João – disse a Eva, – sabes quantos anos tem?
- Não faço a minima ideia – disse eu com pouco interesse em saber a idade da criatura que passava.
- Tem 13 anos.
Eu deveria ter dito qualquer coisa engraçada, qualquer coisa como: “porra as criancinhas hoje andam a crescer muito rápido, qualquer dia ninguém as apanha...”. Mas nada disse.
-Já viste, ela é mesmo bonita. – Insistiu a Eva.
Olhei, mas, talvez por estar apaixonado pelas escadas ou por ela ir de cabeça baixa a olhar para o chão, não reparei muito na beleza dela. Hoje sei como estava errado.
- É mais ou menos... não é muito o meu género – disse eu cada vez mais cansado da conversa.
É engraçado pensar se a Eva se lembra desta situação...

quinta-feira, 20 de março de 2008

Ana era o seu nome

No fim da tarde fui ao "Capri". Pedi uma cerveja (já estava bêbado, para quê parar agora?). Numa mesa ao canto do café estava uma rapariga que eu só vi quando ela se levantou e se dirigiu a mim. Perguntou se se podia sentar e eu disse que sim. Sempre era melhor partilhar a ausência de neurónios na companhia de uma bela mulher, do que estar só com essa estranha forma de vazio. Tinha falado com ela duas ou três vezes, só porque ela vivia no prédio em frente do prédio da puta que me tinha deixado, mas que eu amava. A rapariga falava e sorria, mas eu sinceramente quase não ouvia o que ela dizia. Só conseguia pensar que ela era demasiado bonita e, infelizmente, demasiado nova.
Tinha o rosto e os braços bastante queimados o que me fez recordar que era Verão. Mas o que me impressionava mais eram aqueles olhos azuis de uma profundidade marítima.
Ana era o seu nome e quando lhe perguntei a idade confirmei as minhas suspeitas que poderia ser preso se a levasse para a cama.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Primeiro Final

Foi numa tarde de Julho que ela concretizou os meus piores receios…
O Verão submetia-nos à sua real dimensão. Estávamos os dois sentados no sofá de minha casa tentando espantar o calor que insistia em dar uma consistência gelatinosa aos nossos corpos.
Ela trazia no rosto a marca de cemitérios e de funerais, aniquilando desta forma toda a esperança (que agora só a mim fazia sentido) num futuro. Como ela não conseguia falar foi necessário que a pressionasse até que ela disse:
-Eu adoro-te, mas já não sei se te amo. As palavras tinham ainda o sabor do mel, mas eram frias, distantes e afiadas como uma navalha de capar grilos ou porcos.
- Não quero que me adores, disse eu. Não me adores. Prefiro ter o teu amor ou o teu ódio, porque ser adorado implica distância e eu quero-te sempre perto de mim.
-Lamento muito, mas não posso. Nos olhos dela nasciam lágrimas azuis e transparentes. Não sabes como eu lamento, mas não consigo viver com uma pessoa que não tem objectivos nem sabe lutar.
Cheguei a pensar rebater as conclusões dela e dizer-lhe que apesar de não lutar, nunca deixei de ter objectivos, nunca deixei de sonhar, mas achei que não valia a pena, que ela tinha tomado a decisão que achava mais correcta e que não voltaria a trás.

Nessa Noite sonhei com Sereias e Barcos naufragados mostrando sinais de rombos de esperança no Casco.

sábado, 1 de março de 2008

Setembro

Em Setembro regresso a Coimbra. Enquanto passo junto à escola primária dos Olivais vejo a Carolina sentada na paragem de autocarros. Falo com ela. No entanto, ela está queimada e distante, pouco fala e pouco manifesta. De qualquer forma ela estava de partida para algum lado e eu estava satisfeito por poder por fim desenvolver a minha relação íntima com as pedras da calçada que tantas saudades me deram.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Partida

Carolina olhou para mim como se receasse não me encontrar e sorriu ao confirmar a minha presença junto dela. Mas era um sorriso triste, de quem ia perder alguma coisa importante. Procurei corresponder ao sorriso, mas creio que apenas se formou na minha cara um esgar, reflexo de um nervoso miúdo que não conseguia controlar.
“Não vás!, fica comigo.” Disse ela, tentando conter os reflexos azuis que lhe brotavam dos olhos.
“Sabes bem que não posso ficar.” Disse eu. Mas as palavras saíam secas da garganta...

arguído

Houve um dia que a Sónia me disse, no “states”, que ela tinha acabado comigo não porque já não me amasse, mas sim, porque me considerava um preguiçoso sem objectivos.

O arguído considera-se culpado.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Ananás

“Sempre que como Ananás penso no Anjinho”, escreveu a Carolina no seu diário pouco tempo antes de morrer. E eu passei dias a pensar porque razão pensaria ela em mim quando comia Ananás. Até que me lembrei de almoços e jantares em minha casa, onde, por norma, havia Ananás em calda como sobremesa.